2º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Is 62,1-51 / 1Cor 12,4-11 / Jo 2,1-11
Neste domingo, temos o terceiro momento da manifestação ou epifania do Senhor Jesus: o primeiro foi a visita dos Reis, depois o Batismo e hoje as Bodas de Caná. Toda liturgia deste domingo tem como pano de fundo a Revelação (epifania) do amor de Deus pelo seu povo.
O profeta Isaías mais uma vez está na Jerusalém pós-exílica, destruída e humilhada, pobre e sem esperança. O povo parece estar cansado de promessas, pois Deus parece demorar. No entanto o profeta, como voz de Deus, não pode se calar enquanto não for cumprido o que o Senhor prometeu: “por amor de Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não terei sossego, enquanto não surgir nela como um luzeiro, a justiça e não se acender nela, como uma tocha a salvação” (Is 62,1). É preciso ficar claro para o povo que o Senhor é fiel a sua aliança e não esquece seu amor pelo povo que escolheu. Essa relação é descrita como um amor esponsal, onde a esposa infiel (Jerusalém) e rejuvenescida pelo esposo (Deus) para que lhe seja tirada a humilhação (Is 62,4). O mais bonito é perceber que Deus não se fixa nas falhas do povo, mas quando este, após a humilhação, se volta para Deus, novamente se tornam “a alegria do Senhor” (Is 62,5).
O mesmo amor, gratuito e compassivo é apresentado no Evangelho das Bodas de Caná, onde Jesus manifesta seu programa de vida. Antes de tudo é preciso compreender que este é o início dos sinais de Jesus. João, diferente dos outros evangelistas, não descreve inúmeros milagres, mas apenas sete sinais de Jesus. O sinal é sempre uma ação do Senhor que tem por objetivo suscitar a fé dos discípulos e dos presentes.
O cenário para o primeiro sinal não poderia ser mais perfeito: um casamento, uma aliança. Ao longo do Antigo Testamento, em muitos momentos, se descreve a relação de Deus com o povo por meio de uma aliança matrimonial (como na leitura de Isaías). O vinho é sinal de alegria e abundância do casamento. No entanto, estamos num casamento que falta vinho, falta alegria, carece de sentido. É dessa forma que se sinaliza a Antiga Aliança. O povo escolhido por Deus, que espera pelo Messias, está triste, desolado pela demora do Senhor em responder às suas promessas. A antiga aliança parece estar seca, vazia, como as talhas de pedra, que são seis, um número imperfeito (Jo 2,6). Note que não aparece o nome de Maria, mas se diz que “a mãe de Jesus estava lá” (Jo 2,1). Maria é porta voz do povo de Israel que permaneceu fiel a Deus e não desanimou das suas promessas, por isso ela, atenta aos sinais de Deus, percebe que o tempo exato chegou: a antiga aliança está vazia, mas o Messias já está presente e pode encher novamente as talhas.
Se Maria percebe a falta do vinho, o chefe dos serventes não percebe nada do que se passa (Jo 2,9). É como os chefes do povo Judeu, que acomodados não enxergam a mudança dos tempos e a proximidade da presença de Deus. Os serventes estão dispostos a ajudar, como os discípulos haverão de ajudar o Messias a encher novamente as talhas do mundo com o vinho da salvação, não vinho ruim, mais o vinho da sétima talha, que é o próprio Cristo.
Jesus diz que sua hora ainda não chegou. Então qual é a hora de Jesus? Sua hora é a hora da Cruz, o último sinal. Lá novamente estarão os mesmos elementos de Caná: Maria aos pés da Cruz e mais uma vez será chamada de a “mãe de Jesus”, a água transformada em vinho descerá do lado aberto como sangue e água.
Também ao pedido da Igreja/Mãe o Senhor atende como carinho as preces dos filhos. É Ele mesmo que faz brotar para ela os diversos dons e carismas (1 Cor 12,4) como vinho novo de salvação.
Em tudo Deus não se esquece do seu amor, mas continuamente o renova, mesmo quando a humanidade pecadora se afasta e arrependida pede para voltar. É este o rosto misericordioso de Deus que ama simplesmente por ser Ele mesmo o amor capaz de encher as talhas vazias de nossa alma com o vinho da alegria, da vida e da salvação.
Pe. Renato Oliveira