A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tornou pública, neste domingo, 6 de março, no Santuário Nacional de Aparecida, durante a Missa Solene de abertura da Campanha da Fraternidade 2022, a “Carta do Episcopado Brasileiro às famílias, aos educadores e gestores por ocasião da Campanha da Fraternidade 2022”.
De acordo com o assessor do Setor de Educação da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Júlio César Resende, a ideia de escrever a carta foi proposta originalmente pelo Arcebispo de Goiânia (GO) e presidente da Comissão para a Cultura e a Educação da CNBB, Dom João Justino de Medeiros Silva.
O objetivo, segundo o assessor da Comissão, é fazer com que a mensagem da Campanha da Fraternidade fosse levada de forma mais simples e direcionada a alguns públicos específicos (famílias, educadores e gestores) de tal maneira que estes pudessem acolhê-la.
“A carta foi pensada como uma mensagem de proximidade e cuidado pastoral do coração dos bispos e pastores da Igreja no Brasil para as famílias, na missão que têm na educação, aos educadores, com sua grande tarefa, e àqueles que tem a missão de gerir, os gestores, sejam das instituições ou de órgãos públicos”, ressaltou.
Agradecimento e reconhecimento aos educadores
A ideia, segundo o representante da Pastoral da Educação, é ter uma mensagem de proximidade para aqueles que muitas vezes não têm acesso a todos os textos. “Uma carta também com o intuito de ser uma proximidade. A carta tem o intuito de agradecer e reconhecer o empenho que as famílias, os educadores e gestores fazem em prol da educação em seus diversos ambientes”, disse.
A carta, segundo o padre, aprovada pelos Conselho Pastoral e Permanente da CNBB, convida as famílias, os educadores e gestores a acolherem a proposta da educação cristã, uma proposta que busca formar a pessoa na sua integralidade é voltada e direcionada à promoção do bem comum e também apresenta uma esperança na humanidade e no papel que a educação tem.
Conheça, no vídeo abaixo, uma síntese da carta e, na sequência, a íntegra do documento:
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Carta do Episcopado Brasileiro às famílias, educadores e gestores por ocasião da Campanha da Fraternidade 2022 “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). Ao iniciar a Quaresma de 2022, nós, bispos católicos do Brasil, com coração de pastores, movidos pela força do amor de Deus e da missão que nos foi confiada, dirigimo-nos a todas as famílias, aos educadores e aos gestores, para lhes falar de um tema tão caro a nós todos, a educação. Ao escutar o apelo à conversão, próprio do tempo quaresmal, contemplamos a realidade da educação e precisamos descobrir gestos concretos de mudança e transformação pessoal que tenham resultados no âmbito da educação. Reconhecimento e gratidão “Suplicamos-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós. Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem” (1Ts 5,12-13). Reconhecemos o caminho que se fez no Brasil referente à educação e elevamos a Deus nossa gratidão por tantas pessoas de boa vontade que se dedicaram e se dedicam à missão de educar inspirados em Cristo Mestre e educador da vida e do amor. Prezadas famílias, nossa gratidão a vocês que se esforçam a cada dia assumindo sua laboriosa missão de educar. Vocês têm compreendido sua missão educadora: “Ensina à criança o caminho que ela deve seguir; mesmo quando envelhecer, dele não se há de afastar” (Pr 22,6). Sabemos que a educação não é função exclusiva da escola, mas um esforço coletivo, um dever tanto das famílias quanto do Estado, uma obra a ser feita em mutirão! Obrigado, educadores e educadoras das redes públicas municipal, estadual e federal e da rede privada, confessional e comunitária, espalhados por todos os rincões do país. Vocês levam conhecimento, novos horizontes e cidadania ao incontável número de estudantes abrindo-lhes novas oportunidades de sonharem seus projetos de vida. Reconhecemos o valor de sua profissão de educadores que consagraram e consagram sua vida à missão de educar, enfrentando com compromisso ético-profissional os desafios próprios das estruturas e condições de trabalho assim como do próprio sistema educacional. Nossa gratidão também aos gestores públicos que se esforçam por cumprir a implementação do direito constitucional do ensino universal e gratuito para o povo brasileiro. Com a pandemia da COVID-19, escolas foram fechadas. É preciso agradecer, de modo muito particular às famílias e outros agentes educativos que não se descuidaram da educação das crianças, adolescentes, jovens e adultos, apesar de todas as dificuldades enfrentadas. Nossa gratidão e reconhecimento por seus esforços, compromisso e humanismo. Com certeza, a pandemia teria consequências muito mais devastadoras se não fosse a atuação das famílias e professores(as), pessoas de boa vontade e espírito solidário e abnegado que demostraram assim que educação também se faz com paixão. Pelo Pacto Educativo Global “Levanta-te e come, porque tens um longo caminho a percorrer” (1Rs 19,7). No entanto, apesar de todos os avanços que merecem não só nosso reconhecimento como também nossa gratidão, é urgente afirmar que este é um caminho inconcluso, que há muito a se fazer, que talvez o Brasil ainda esteja no início de seu processo de consolidação educacional. Afinal, educar exige o esforço e dedicação das famílias, dos educadores, das instituições, do Estado e principalmente de toda sociedade. Exige também investimento ostensivo, diretrizes e políticas públicas claras, acompanhamento sistemático e empenho geral de toda a sociedade. E isso não se faz de um dia para o outro, nem sem um projeto de Estado, para além de projetos pontuais de governos. Famílias, vocês são chamadas a rever seu compromisso com a educação de seus filhos atuando sempre mais de maneira colaborativa e cooperativa com a escola e os educadores. Por sua vez, vocês educadores são chamados a avaliar de que maneira sua prática docente tem colaborado na formação humana, ética e cidadã de seus estudantes. Vocês gestores, precisam discernir profundamente como os programas, currículos e políticas educacionais colaboram na construção de um novo modelo de sociedade, preparando pessoas para a vida e não apenas para o mercado. É urgente uma reforma de mentalidade que torne a educação realmente prioridade. O Brasil precisa de uma mudança realmente completa, radical, na qual a educação seja prioridade do Estado brasileiro e de toda sociedade como nos propôs o Papa Francisco no Pacto Educativo Global. E, para que este processo educacional seja levado a bom termo, isto é, torne os homens e mulheres mais humanos, é necessário olhar a pessoa como um todo, complexa e indivisível. Não é à toa que o mandamento maior do Senhor anuncia que é preciso amar de todas as formas e por todas as dimensões da existência: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento; e a teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10,27). Nossas esperanças “O Senhor é bom para quem nele confia, para a alma que o procura. Bom é esperar” (Lm 3,25-26). Nossa mais viva esperança é que as famílias, os educadores, os gestores, as escolas e a sociedade em sua totalidade assumam com entusiasmo e coragem sua missão na aldeia educativa de forma participativa e colaborativa. Cada lar seja um autêntico ambiente educativo, no qual, por meio do encontro de gerações, se partilhe vivamente as experiências edificando pessoas conscientes de sua história. Nossa esperança é que as escolas e universidades sejam centros de excelência não só acadêmica, mas também humanística. Que acolham todos os estudantes, especialmente os mais pobres e desamparados, oferecendo-lhes uma oportunidade de vida diferente, com mais esperança e alegria de viver. Nossa firme esperança é que cada educador receba o apoio necessário no exercício de sua missão educativa e assim desperte e acompanhe as novas gerações na construção de projetos de vida que tenham como horizonte o bem comum e a fraternidade. Por fim, esperamos que os gestores conscientes de seu importante papel priorizem políticas públicas de projetos educativos inclusivos. Educar é uma tarefa exigente, que se faz com paixão e com coragem frente aos desafios. Mas não estamos sozinhos neste esforço diário. Assistidos pela graça divina e amparados pelas luzes do Espírito de Deus, temos esperança de que este caminho, já iniciado pelo povo brasileiro e que continua a ser trilhado, ora com grandes avanços ora com preocupantes retrocessos, chegará um dia a bom termo. Nós, bispos do Brasil, em total espírito de serviço aos irmãos e irmãs, colocamo-nos à disposição para ajudar neste processo. A Igreja é solidária à causa educacional e nós, seus pastores, queremos continuar empregando todos os meios e recursos dos quais dispomos para ajudar neste amplo processo transformador da sociedade brasileira. Afinal, tudo o que toca a educação toca diretamente a sociedade. Convocamos todas as famílias, comunidades, paróquias, dioceses para abraçarem a causa da educação em prol de uma humanidade fraterna. Renovando o processo educacional, temos certeza de que renovaremos as estruturas institucionais do Brasil em favor de um novo tempo para nosso país. Que o Senhor, Pai de toda sabedoria e Deus das luzes, nos guie a todos e nos ampare em todos os nossos esforços! Que Maria e José, os educadores de Jesus, Filho de Deus, nos inspirem com seus exemplos e nos ajudem a sermos todos aprendizes e servidores do Evangelho da vida. Que a força renovadora da Páscoa sustente nossos sonhos e missão. Aparecida (SP), 6 de março de 2022