Penso que o começo do chamado de Deus para eu ser padre está lá nos meus nove anos de idade, com a oração do terço de Nossa Senhora, quando me tornei “tirador” de terço no meio rural em que vivia, região do Rio Novo e Córrego Frio, município de Rubiataba. Parece que era difícil encontrar alguém que puxasse o terço contemplando os mistérios, então meu pai trouxe do Santuário de Guarinos um terço e um catecismo que tinha a contemplação dos mistérios, o oferecimento, o agradecimento e até a ladainha de Nossa Senhora. O estágio foi em casa mesmo, uma cadeira como altar, uma lamparina acesa, e minha mãe e meu tio, rezávamos ajoelhados. Depois vinham sempre me convidar, me buscar a cavalo, para rezar o terço em todas as novenas e festas de santos daquela região. Não conhecia ainda os padres, mas localizo ali Deus me chamando e já me separando para ele.
Com doze anos já ia à cidade, já frequentava a Missa, em latim. Aos treze tornei-me coroinha, e um padre redentorista quis me levar para o seminário com outros colegas, meu pai não concordou. Aos dezoito participava ativamente da vida da paróquia e Dom Juvenal Roriz começou a falar sobre vocação, sobre padre diocesano, sobre clero autóctone e estudou comigo a Lumen Gentium. Aos 19 anos passei no concurso do Banco do Brasil e pareceu que tudo mudava de rumos, mas, aos 23 anos, em 1976, foi aberto o Seminário Maior de Brasília, Dom Roriz me convidou e solicitou uma vaga no Seminário. Levou um mês para conseguir minha demissão do banco, e no dia 03 de abril de 1976, com um mês de atraso, entrei para o seminário em Brasília. Dom Roriz me levou de avião
Acredito que Deus tem um chamado particular para cada um, uma história de amor. O chamado para cada um pode ser entendido nas entrelinhas do dia a dia e, principalmente nos momentos de silêncio e solidão. Comigo Deus fala muito no silêncio, e de maneira muito clara.
Posso dizer que de um modo mais claro, livre e convincente, um jovem pode perceber o chamado de Deus nos momentos de oração, de silêncio, de contemplação da Eucaristia ou de uma situação em que se sente a presença de Deus. Num primeiro momento Deus não fala com palavras, mas toca o coração, suscita um posicionamento humilde. Ele oferece a “isca”, o jovem ainda não entende, mas quando esses encontros se repetem com a mesma experiência de Deus, o jovem “morde a isca”. Aí vai ficando mais claro… e Deus vai atuando no processo. Quanto mais o jovem se envolve na Igreja, mais ele vai entendendo a comunicação de Deus e se sente feliz, mesmo com medo, é Deus confirmando o chamado.
Para mim, ser padre é ser de Deus. Gosto muito de escutar a expressão “homem de Deus”. É estar com Deus, falar com Deus, falar em nome de Deus e, principalmente, não existir para mim, mas para o próximo, para a Igreja, para a missão. É ser feliz até em meio às dores, aos desafios e aos meus próprios limites. Para mim ser padre é estar pronto, disponível, e entender pela oração, que Deus quem me chamou, me ungiu e consagrou, me separou para ele, é ele quem sustenta meu ser padre em cada dia e em todos os segundos da minha existência e missão.
Aos jovens de hoje que sentem o chamado ao sacerdócio:
Aos nossos jovens atuais eu quero dizer: Deus chama, viu!? E pode chamar você! Preste mais atenção! E digo mais: o chamado é dom de Deus, é um presente, um privilégio, uma prova de amor. Não tenha medo de ser feliz! Deus é muito generoso, como canta o Pe. Zezinho: “Por escutar uma voz que disse que faltava gente para semear, deixei meu lar e saí sorrindo e assobiando pra não chorar. Fui me alistar entre os operários que deixam tudo pra te levar… e fui lutar por um mundo novo, não tenho um lar, mas ganhei um povo! Conforme a promessa de Jesus em Marcos 10, 29-31. Jovens, venham! Vamos nos aproximar de Deus que chama, nos entreter com ele. Ele é muito criativo com cada um de nós, e vocês vão experimentar ele mesmo dizendo: “Não tenhas medo que fui eu quem te resgatou, chamei-te pelo próprio nome, tu és meu!” (Isaías, 43,1).